Questões de Português - Gêneros Textuais para Concurso

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Q2469443 Português
Uma história de tanto amor

        Era uma vez uma menina que observava tanto as galinhas que lhes conhecia a alma e os anseios íntimos. A galinha é ansiosa, enquanto o galo tem angústia quase humana: falta-lhe um amor verdadeiro naquele seu harém, e ainda mais tem que vigiar a noite toda para não perder a primeira das mais longínquas claridades e cantar o mais sonoro possível. É o seu dever e a sua arte. Voltando às galinhas, a menina possuía duas só dela. Uma se chamava Pedrina e a outra Petronilha.
        Quando a menina achava que uma delas estava doente do fígado, ela cheirava embaixo das asas delas, com uma simplicidade de enfermeira, o que considerava ser o sintoma máximo de doenças, pois o cheiro de galinha viva não é de se brincar. Então pedia um remédio a uma tia. E a tia: “Você não tem coisa nenhuma no fígado”. Então, com a intimidade que tinha com essa tia eleita, explicou-lhe para quem era o remédio. A menina achou de bom alvitre dá-lo tanto a Pedrina quanto a Petronilha para evitar contágios misteriosos. Era quase inútil dar o remédio porque Pedrina e Petronilha continuavam a passar o dia ciscando o chão e comendo porcarias que faziam mal ao fígado. E o cheiro debaixo das asas era aquela morrinha mesmo. Não lhe ocorreu dar um desodorante porque nas Minas Gerais onde o grupo vivia não eram usados assim como não se usavam roupas íntimas de nylon e sim de cambraia. A tia continuava a lhe dar o remédio, um líquido escuro que a menina desconfiava ser água com uns pingos de café – e vinha o inferno de tentar abrir o bico das galinhas para administrar-lhes o que as curaria de serem galinhas. A menina ainda não tinha entendido que os homens não podem ser curados de serem homens e as galinhas de serem galinhas: tanto o homem como a galinha têm misérias e grandeza (a da galinha é a de pôr um ovo branco de forma perfeita) inerentes à própria espécie. A menina morava no campo e não havia farmácia perto para ela consultar.
        Outro inferno de dificuldade era quando a menina achava Pedrina e Petronilha magras debaixo das penas arrepiadas, apesar de comerem o dia inteiro. A menina não entendera que engordá-las seria apressar-lhes um destino na mesa. E recomeçava o trabalho mais difícil: o de abrir-lhes o bico. A menina tornou-se grande conhecedora intuitiva de galinhas naquele imenso quintal das Minas Gerais. E quando cresceu ficou surpresa ao saber que na gíria o termo galinha tinha outra acepção. Sem notar a seriedade cômica que a coisa toda tomava:
        Mas é o galo, que é um nervoso, é quem quer! Elas não fazem nada demais! E é tão rápido que mal se vê! O galo é quem fica procurando amar uma e não consegue!
        Um dia a família resolveu levar a menina para passar o dia na casa de um parente, bem longe de casa. E quando voltou, já não existia aquela que em vida fora Petronilha. Sua tia informou-lhe:
        – Nós comemos Petronilha.
        A menina era criatura de grande capacidade de amar: uma galinha não corresponde ao amor que se lhe dá e, no entanto, a menina continuava a amá-la sem esperar reciprocidade. Quando soube o que acontecera com Petronilha passou a odiar todo o mundo da casa, menos sua mãe que não gostava de comer galinha e os empregados que comeram carne de vaca ou de boi. O seu pai, então, ela mal conseguiu olhar: era ele quem mais gostava de comer galinha. Sua mãe percebeu tudo e explicou-lhe:
        – Quando a gente come bichos, os bichos ficam mais parecidos com a gente, estando assim dentro de nós. Daqui de casa só nós duas é que não temos Petronilha dentro de nós. É uma pena.
        Pedrina, secretamente a preferida da menina, morreu de morte morrida mesmo, pois sempre fora um ente frágil. A menina, ao ver Pedrina tremendo num quintal ardente de sol, embrulhou-a num pano escuro e depois de bem embrulhadinha botou-a em cima daqueles grandes fogões de tijolos das fazendas das minas-gerais. Todos lhe avisaram que estava apressando a morte de Pedrina, mas a menina era obstinada e pôs mesmo Pedrina toda enrolada em cima dos tijolos quentes. Quando na manhã seguinte Pedrina amanheceu dura de tão morta, a menina só então, entre lágrimas intermináveis, se convenceu de que apressara a morte do ser querido.
        Um pouco maiorzinha, a menina teve uma galinha chamada Eponina.
        O amor por Eponina: dessa vez era um amor mais realista e não romântico; era o amor de quem já sofreu por amor. E quando chegou a vez de Eponina ser comida, a menina não apenas soube como achou que era o destino fatal de quem nascia galinha. As galinhas pareciam ter uma pré-ciência do próprio destino e não aprendiam a amar os donos nem o galo. Uma galinha é sozinha no mundo.
        Mas a menina não esquecera o que sua mãe dissera a respeito de comer bichos amados: comeu Eponina mais do que todo o resto da família, comeu sem fome, mas com um prazer quase físico porque sabia agora que assim Eponina se incorporaria nela e se tornaria mais sua do que em vida. Tinham feito Eponina ao molho pardo. De modo que a menina, num ritual pagão que lhe foi transmitido de corpo a corpo através dos séculos, comeu-lhe a carne e bebeu-lhe o sangue. Nessa refeição tinha ciúmes de quem também comia Eponina. A menina era um ser feito para amar até que se tornou moça e havia os homens.

(LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina: contos. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.)
Conto é um gênero textual marcado pela narrativa curta, escrita em prosa e de menor complexidade em relação aos romances. O conto “Uma história de tanto amor”, de Clarice Lispector, pressupõe que a menina, quando adulta, teve uma percepção, ou seja, um entendimento diferente do amor, em que é possível observar através do fragmento:
Alternativas
Q2469095 Português



Internet:<www.g1.globo.com>  (com adaptações).

Com relação a aspectos gerais do texto, julgue o item.


Há marcas de inserção do leitor no texto, o que, no entanto, é inadequado para um gênero narrativo, como o texto apresentado.

Alternativas
Q2469092 Português
História de um átomo



Rodolfo Teófilo. Eternidade da matéria

Com relação a aspectos gerais do texto, julgue o item.


O poema não pode ser considerado um soneto, porque apresenta esquema regular de rimas.

Alternativas
Q2467908 Português
No que tange ao texto narrativo, conforme nos ensinam Platão e Fiorin, o narrador relata a partir de um dado ponto de vista, focaliza o que está sendo narrado de uma dada maneira. O ponto de vista é, pois, a maneira como são vistos os acontecimentos que estão sendo contados, a compreensão que se tem deles numa determinada altura da narração, o que se sabe ou se conhece dos fatos que ocorrem num determinado momento. Há, segundo os autores, três formas básicas de focalização:

I. Focalização parcial interna, em que os fatos são compreendidos a partir do ponto de vista de uma personagem. Aqui, o narrador sabe mais que a personagem, mas conta apenas aquilo que a personagem conhece.
II. Focalização parcial externa, em que se vê apenas as ações das personagens, mas não se sabe quais são seus pensamentos. Focaliza-se a exterioridade da cena e não se vê a partir do íntimo de uma personagem, o que produz um efeito de sentido de neutralidade e de objetividade.
III. Focalização total, em que se veem os acontecimentos nem a partir do exterior nem a partir do íntimo de uma personagem. Quem vê a cena narrada é onisciente, sabe mais que as personagens, conhece os sentimentos e os pensamentos de cada uma delas. Esse tipo de focalização só pode ocorrer com narrador em terceira pessoa.

Quais estão corretas?
Alternativas
Q2465119 Português
TEXTO 3



Milhares em risco em Belo Horizonte no período chuvoso



Além de adotar ações emergenciais na estrutura das áreas de risco, é preciso atacar as causas que levaram milhares de pessoas a viver em situações insalubres - Publicado em 1 de novembro de 2023

           À medida que o período chuvoso se intensifica, cresce o medo das mil famílias que vivem em áreas de risco em Belo Horizonte. O temor na época das chuvas é resultado de anos de descaso do poder público. A última década foi marcada pela queda nos investimentos em programas de moradia popular na capital.

         Nos últimos cinco anos, o período chuvoso mais trágico foi o de 2020. Foram dezenas de mortos em Minas Gerais e cerca de 12 mil pessoas desabrigadas ou desalojadas, de acordo com dados da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil. As bacias de contenção parcialmente em funcionamento devem prevenir ou reduzir a gravidade das enchentes, mas no caso dos deslizamentos de terra, é necessário o monitoramento constante por parte dos órgãos de defesa.

        Na tentativa de reduzir os riscos de deslizamento, a Prefeitura de Belo Horizonte realizou obras dentro do Programa de Gestão de Risco Geológico-geotécnico. Os investimentos chegam a R$ 118 milhões. As intervenções incluem construção de muro de contenção, implantação de redes de esgoto e drenagem.

       Além de adotar ações emergenciais na estrutura das áreas de risco, é preciso atacar as causas que levaram milhares de pessoas a se instalarem em situações insalubres. A capital mineira assiste ao aumento do déficit habitacional ao mesmo tempo que registra o surgimento de novos empreendimentos imobiliários. A administração pública, que deveria agir para reduzir essa desigualdade, tem sido ineficiente. O montante usado para conter o déficit habitacional em 2012 foi de R$ 237 milhões, valor que caiu para R$ 84 milhões em 2022, uma redução de 64%, segundo a Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel). É o que mostra reportagem de abril deste ano do jornal O TEMPO.

          O lar é a base para que um indivíduo se desenvolva e exerça seu papel de cidadão. Mais do que um direito, a moradia está ligada à dignidade humana. E cabe ao Estado garantir esse acesso.


(Disponível em: www.otempo.com.br/opiniao/editorial/milhares-em-risco-em-belo-horizonte-no-periodochuvoso-1.3265514)
Sobre o texto 3, assinale a alternativa correta: 
Alternativas
Respostas
41: B
42: E
43: E
44: E
45: B