Questões de Concurso Público Prefeitura de Petrolina - PE 2021 para Professor Substituto Ensino Fundamental - Língua Portuguesa
Foram encontradas 2 questões
Ano: 2021
Banca:
AEVSF/FACAPE
Órgão:
Prefeitura de Petrolina - PE
Prova:
AEVSF/FACAPE - 2021 - Prefeitura de Petrolina - PE - Professor Substituto Ensino Fundamental - Língua Portuguesa |
Q1820057
Português
Texto associado
TEXTO 02
A metamorfose
Luis Fernando Verissimo
Uma barata acordou um dia e viu que tinha se
transformado num ser humano. Começou a mexer
suas patas e viu que só tinha quatro, que eram
grandes e pesadas e de articulação difícil. Não
tinha mais antenas. Quis emitir um som de surpresa
e sem querer deu um grunhido. As outras baratas
fugiram aterrorizadas para trás do móvel. Ela quis
segui-las, mas não coube atrás do móvel. O seu
segundo pensamento foi: “Que horror… Preciso
acabar com essas baratas…”
Pensar, para a ex-barata, era uma novidade.
Antigamente ela seguia seu instinto. Agora
precisava raciocinar. Fez uma espécie de manto
com a cortina da sala para cobrir sua nudez. Saiu
pela casa e encontrou um armário num quarto, e
nele, roupa de baixo e um vestido. Olhou-se no
espelho e achou-se bonita. Para uma ex-barata.
Maquiou-se. Todas as baratas são iguais, mas as
mulheres precisam realçar sua personalidade.
Adotou um nome: Vandirene. Mais tarde descobriu
que só um nome não bastava. A que classe
pertencia?… Tinha educação?…. Referências?…
Conseguiu a muito custo um emprego como
faxineira. Sua experiência de barata lhe dava
acesso a sujeiras mal suspeitadas. Era uma boa
faxineira.
Difícil era ser gente… Precisava comprar comida e
o dinheiro não chegava. As baratas se acasalam
num roçar de antenas, mas os seres humanos não.
Conhecem-se, namoram, brigam, fazem as pazes,
resolvem se casar, hesitam. Será que o dinheiro vai
dar? Conseguir casa, móveis, eletrodomésticos,
roupa de cama, mesa e banho. Vandirene casou-se, teve filhos. Lutou muito, coitada. Filas no
Instituto Nacional de Previdência Social. Pouco
leite. O marido desempregado… Finalmente
acertou na loteria. Quase quatro milhões! Entre as
baratas ter ou não ter quatro milhões não faz
diferença. Mas Vandirene mudou. Empregou o
dinheiro. Mudou de bairro. Comprou casa. Passou
a vestir bem, a comer bem, a cuidar onde põe o
pronome. Subiu de classe. Contratou babás e
entrou na Pontifícia Universidade Católica.
Vandirene acordou um dia e viu que tinha se
transformado em barata. Seu penúltimo
pensamento humano foi: “Meu Deus!… A casa foi
dedetizada há dois dias!…”. Seu último
pensamento humano foi para seu dinheiro
rendendo na financeira e que o safado do marido,
seu herdeiro legal, o usaria. Depois desceu pelo pé
da cama e correu para trás de um móvel. Não
pensava mais em nada. Era puro instinto. Morreu cinco minutos depois, mas foram os cinco minutos
mais felizes de sua vida.
Kafka não significa nada para as baratas…
(VERÍSSIMO, Luís Fernando. A metamorfose. in Ed
Morte e outras histórias. Porto Alegre. L&PM
Editores, 1979.)
A diferenciação entre tipos textuais e gêneros
textuais se apresenta em diversos níveis. O texto
apresentado (A Metamorfose) se insere na
tipologia (i) _____________________________.
Embora essa seja a tipologia predominante;
segundo Luiz Antônio Marcuschi (Produção
Textual, Análise de Gêneros e Compreensão), há
certa heterogeneidade tipológica nos textos em
geral, como no trecho a seguir “Todas as baratas
são iguais, mas as mulheres precisam realçar sua
personalidade”, no qual se evidencia a tipologia
(ii)_________________________ , posto que há a
emissão de uma ideia genérica a respeito do
comportamento feminino. Já sua classificação em
gênero se dá como (iii) _____________________;
um gênero que evoluiu com o passar do tempo,
saindo da esfera (iv) ______________________ e
passando ao universo literário propriamente dito.
As palavras que completam, respectiva e corretamente, os espaços do texto anterior são:
As palavras que completam, respectiva e corretamente, os espaços do texto anterior são:
Ano: 2021
Banca:
AEVSF/FACAPE
Órgão:
Prefeitura de Petrolina - PE
Prova:
AEVSF/FACAPE - 2021 - Prefeitura de Petrolina - PE - Professor Substituto Ensino Fundamental - Língua Portuguesa |
Q1820059
Português
Texto associado
Uma maior depuração entre o que se pode entender por literal, por figurado e por antífrase, na perspectiva constitutiva do discurso irônico, parece revelar que a ironia é produzida, como estratégia significante, no nível do discurso, devendo ser descrita e analisada da perspectiva da enunciação e, mais diretamente, do edifício retórico instaurado por uma enunciação. Isso significa que o discurso irônico joga essencialmente com a ambiguidade, convidando o receptor a, no mínimo, uma dupla decodificação, isto é, linguística e discursiva.
TEXTO 04
Do direito de não informar
RIO DE JANEIRO – Evidente, é o progresso. Os
meios de comunicação, com os recursos
tecnológicos de hoje, colocam os personagens da
comédia humana em exposição quase total.
Acompanhamos o cotidiano, invadimos a
privacidade alheia com as câmeras, os vídeos, as
escutas telefônicas, as tomografias
computadorizadas dos doentes, o estado terminal
dos moribundos.
Desde o pé enfaixado do presidente, as tíbias
esquálidas do delegado suspeito de mutretas
graves, o aparelho urinário do governador que
estava morrendo de câncer generalizado, tudo fica
escancarado na TV, nas revistas e nos jornais em
nome do sagrado direito que tem o povo de estar
informado.
Pessoalmente, não considero sagrado esse direito,
duvido até mesmo de que tenhamos o direito de
saber tudo de todos. Trabalhei durante anos com
um repórter - dos melhores que conheci - que foi
entrevistar um deputado recém-eleito, na faixa da
meia-idade, e quis saber se ele tomava Viagra.
Certa vez, o fotógrafo de uma revista foi à minha
casa e queria fotografar os meus sapatos. O
pauteiro da matéria garantira que eu possuía uma
esplêndida coleção de sapatos italianos, eu seria
uma espécie de Imelda Marcos, a mulher do ditador
filipino, que tinha mais de mil pares de sapatos.
Quem estaria interessado nos meus tênis
esmolambados, nas vias urinárias do governador já
morto, em quem toma ou não toma viagra? Vi, na
semana passada, a foto do pé enfaixado de Lula.
Recebi uma informação que não me interessava.
Como vingança, darei uma informação que não
deve interessar a ninguém: estarei fora do país por
uma semana. Pessoas mal informadas, em Paris e
em Lyon, querem saber como vai a literatura
brasileira. Talvez aproveite a oportunidade e fale
sobre a coleção de sapatos italianos que não
tenho.
(CONY, Carlos Heitor. In: Folha de S. Paulo, 23 de
novembro de 2003, p. 2.)
TEXTO 05
Uma maior depuração entre o que se pode entender por literal, por figurado e por antífrase, na perspectiva constitutiva do discurso irônico, parece revelar que a ironia é produzida, como estratégia significante, no nível do discurso, devendo ser descrita e analisada da perspectiva da enunciação e, mais diretamente, do edifício retórico instaurado por uma enunciação. Isso significa que o discurso irônico joga essencialmente com a ambiguidade, convidando o receptor a, no mínimo, uma dupla decodificação, isto é, linguística e discursiva.
(BRAIT, Beth. Ironia em perspectiva polifônica.
Campinas: UNICAMP. 1996, p.96.)
Sabe-se que a crônica se caracteriza, dentre outros
aspectos, por lançar um olhar sobre o cotidiano, em
geral, com o uso do humor e criticidade. Tendo por
base a noção de ironia relevada no Texto 05,
assinale a alternativa em que esteja presente o tom
irônico no Texto 04, do colunista Carlos Heitor
Cony: