Não se deveria dizer “consumir cultura”. Em vez de
“consumir música” ou “consumir teatro”, deveríamos voltar a
dizer “ouvir música”, “assistir ao teatro”, e assim por diante.
Na Roma antiga, “consumir” tinha o sentido exclusivo de
gastar e destruir. Com o tempo, passou-se a empregar o termo
referindo-se ao consumo de alimentos, o que não deixa de ser
uma destruição: destruímos os alimentos ao comê-los, para nos
mantermos vivos e saudáveis. Já que, para comê-los, é preciso
primeiro comprá-los, consumir tornou-se sinônimo de comprar,
adquirir. E, na sociedade em que vivemos, em que tudo, inclusive
a cultura, virou produto, não é estranho pensar em consumir
música, teatro, dança, livros etc.
Em tempos em que o consumismo domina as relações
sociais e em que há uma forte reação contra ele por parte de
setores mais esclarecidos da sociedade, falar em consumir cultura
pode soar mercantilista. Quem consome não frui, e a cultura
deveria ser, antes de tudo, fruição.
Aldo Bizzocchi. Cultura é artigo de consumo?
Internet:<www.diariodeumlinguista.com> (com adaptações).