TEXTO 6
Todos os anos, nas férias da escola, Conceição
vinha passar uns meses com a avó (que a criara desde que
lhe morrera a mãe), no Logradouro, a velha fazenda da
família, perto de Quixadá. Ali tinha a moça o seu quarto, os
seus livros, e, principalmente, o velho coração amigo de
Mãe Nácia. (...)
Conceição tinha vinte e dois anos e não falava em
casar. As suas poucas tentativas de namoro tinham-se ido
embora com os dezoito anos e o tempo de normalista; dizia
alegremente que nascera solteirona. Ouvindo isso, a avó
encolhia os ombros e sentenciava que mulher que não casa
é um aleijão...
─ Esta menina tem umas ideias!
Estaria com razão a avó? Porque, de fato,
Conceição talvez tivesse umas ideias; escrevia um livro
sobre pedagogia, rabiscara dois sonetos, e às vezes lhe
acontecia citar o Nordau ou o Renan da biblioteca do avô.
Chegara até a se arriscar em leituras socialistas, e
justamente dessas leituras é que lhe saíam as piores das
tais ideias, estranhas e absurdas à avó. (...)
QUEIROZ, Rachel de. O Quinze. 54ª ed. São Paulo: Siciliano,
1993, p. 9-10.(trecho adaptado)