Questões de Vestibular UNESP 2013 para Vestibular - Segundo Semestre
Foram encontradas 18 questões
Q1260407
Português
Texto associado
Instrução: A questão toma por base
um fragmento da crônica Letra de canção e poesia, de Antonio
Cicero.
Como escrevo poemas e letras de canções, frequentemente
perguntam-me se acho que as letras de canções são poemas. A
expressão “letra de canção” já indica de que modo essa questão
deve ser entendida, pois a palavra “letra” remete à escrita. O
que se quer saber é se a letra, separada da canção, constitui um
poema escrito.
“Letra de canção é poema?” Essa formulação é inadequada. Desde que as vanguardas mostraram que não se pode determinar a priori quais são as formas lícitas para a poesia, qualquer coisa pode ser um poema. Se um poeta escreve letras soltas
na página e diz que é um poema, quem provará o contrário?
Neste ponto, parece-me inevitável introduzir um juízo de valor. A verdadeira questão parece ser se uma letra de canção é
um bom poema. Entretanto, mesmo esta última pergunta ainda
não é suficientemente precisa, pois pode estar a indagar duas
coisas distintas: 1) Se uma letra de canção é necessariamente
um bom poema; e 2) Se uma letra de canção é possivelmente um
bom poema.
Quanto à primeira pergunta, é evidente que deve ter uma
resposta negativa. Nenhum poema é necessariamente um bom
poema; nenhum texto é necessariamente um bom poema; logo,
nenhuma letra é necessariamente um bom poema. Mas talvez o
que se deva perguntar é se uma boa letra é necessariamente um
bom poema. Ora, também a essa pergunta a resposta é negativa. Quem já não teve a experiência, em relação a uma letra de
canção, de se emocionar com ela ao escutá-la cantada e depois
considerá-la insípida, ao lê-la no papel, sem acompanhamento
musical? Não é difícil entender a razão disso.
Um poema é um objeto autotélico, isto é, ele tem o seu fim
em si próprio. Quando o julgamos bom ou ruim, estamos a
considerá-lo independentemente do fato de que, além de ser um
poema, ele tenha qualquer utilidade. O poema se realiza quando
é lido: e ele pode ser lido em voz baixa, interna, aural.
Já uma letra de canção é heterotélica, isto é, ela não tem o
seu fim em si própria. Para que a julguemos boa, é necessário
e suficiente que ela contribua para que a obra lítero-musical de
que faz parte seja boa. Em outras palavras, se uma letra de canção servir para fazer uma boa canção, ela é boa, ainda que seja
ilegível. E a letra pode ser ilegível porque, para se estruturar,
para adquirir determinado colorido, para ter os sons ou as palavras certas enfatizadas, ela depende da melodia, da harmonia,
do ritmo, do tom da música à qual se encontra associada.
(Folha de S.Paulo, 16.06.2007.)
Sobre a qualidade da canção, o cronista acredita que
Q1260408
Português
Texto associado
Instrução: A questão toma por base
um fragmento da crônica Letra de canção e poesia, de Antonio
Cicero.
Como escrevo poemas e letras de canções, frequentemente
perguntam-me se acho que as letras de canções são poemas. A
expressão “letra de canção” já indica de que modo essa questão
deve ser entendida, pois a palavra “letra” remete à escrita. O
que se quer saber é se a letra, separada da canção, constitui um
poema escrito.
“Letra de canção é poema?” Essa formulação é inadequada. Desde que as vanguardas mostraram que não se pode determinar a priori quais são as formas lícitas para a poesia, qualquer coisa pode ser um poema. Se um poeta escreve letras soltas
na página e diz que é um poema, quem provará o contrário?
Neste ponto, parece-me inevitável introduzir um juízo de valor. A verdadeira questão parece ser se uma letra de canção é
um bom poema. Entretanto, mesmo esta última pergunta ainda
não é suficientemente precisa, pois pode estar a indagar duas
coisas distintas: 1) Se uma letra de canção é necessariamente
um bom poema; e 2) Se uma letra de canção é possivelmente um
bom poema.
Quanto à primeira pergunta, é evidente que deve ter uma
resposta negativa. Nenhum poema é necessariamente um bom
poema; nenhum texto é necessariamente um bom poema; logo,
nenhuma letra é necessariamente um bom poema. Mas talvez o
que se deva perguntar é se uma boa letra é necessariamente um
bom poema. Ora, também a essa pergunta a resposta é negativa. Quem já não teve a experiência, em relação a uma letra de
canção, de se emocionar com ela ao escutá-la cantada e depois
considerá-la insípida, ao lê-la no papel, sem acompanhamento
musical? Não é difícil entender a razão disso.
Um poema é um objeto autotélico, isto é, ele tem o seu fim
em si próprio. Quando o julgamos bom ou ruim, estamos a
considerá-lo independentemente do fato de que, além de ser um
poema, ele tenha qualquer utilidade. O poema se realiza quando
é lido: e ele pode ser lido em voz baixa, interna, aural.
Já uma letra de canção é heterotélica, isto é, ela não tem o
seu fim em si própria. Para que a julguemos boa, é necessário
e suficiente que ela contribua para que a obra lítero-musical de
que faz parte seja boa. Em outras palavras, se uma letra de canção servir para fazer uma boa canção, ela é boa, ainda que seja
ilegível. E a letra pode ser ilegível porque, para se estruturar,
para adquirir determinado colorido, para ter os sons ou as palavras certas enfatizadas, ela depende da melodia, da harmonia,
do ritmo, do tom da música à qual se encontra associada.
(Folha de S.Paulo, 16.06.2007.)
Com o conceito expresso pelo termo autotélico, o cronista considera que
Q1260410
Português
Texto associado
Instrução: A questão toma por base uma
passagem de um livro de José Ribeiro sobre o folclore nacional.
Curupira
Na teogonia* tupi, o anhangá, gênio andante, espírito andejo ou vagabundo, destinava-se a proteger a caça do campo. Era
imaginado, segundo a tradição colhida pelo Dr. Couto de Magalhães, sob a figura de um veado branco, com olhos de fogo.
Todo aquele que perseguisse um animal que estivesse amamentando corria o risco de ver Anhangá e a visão determinava
logo a febre e, às vezes, a loucura. O caapora é o mesmo tipo
mítico encontrado nas regiões central e meridional e aí representado por um homem enorme coberto de pelos negros por todo
o rosto e por todo o corpo, ao qual se confiou a proteção da caça
do mato. Tristonho e taciturno, anda sempre montado em um
porco de grandes dimensões, dando de quando em vez um grito
para impelir a vara. Quem o encontra adquire logo a certeza
de ficar infeliz e de ser mal sucedido em tudo que intentar. Dele
se originaram as expressões portuguesas caipora e caiporismo,
como sinônimo de má sorte, infelicidade, desdita nos negócios.
Bilac assim o descreve: “Companheiro do curupira, ou sua duplicata, é o Caapora, ora gigante, ora anão, montado num caititu, e cavalgando à frente de varas de porcos do mato, fumando
cachimbo ou cigarro, pedindo fogo aos viajores; à frente dele
voam os vaga-lumes, seus batedores, alumiando o caminho”.
Ambos representam um só mito com diferente configuração e a mesma identidade com o curupira e o jurupari, numes
que guardam a floresta. Todos convergem mais ou menos para
o mesmo fim, sendo que o curupira é representado na região
setentrional por um “pequeno tapuio” com os pés voltados para
trás e sem os orifícios necessários para as secreções indispensáveis à vida, pelo que a gente do Pará diz que ele é músico. O
Curupira ou Currupira, como é chamado no sul, aliás erroneamente, figura em uma infinidade de lendas tanto no norte como
no sul do Brasil. No Pará, quando se viaja pelos rios e se ouve
alguma pancada longínqua no meio dos bosques, “os romeiros
dizem que é o Curupira que está batendo nas sapupemas, a ver
se as árvores estão suficientemente fortes para sofrerem a ação
de alguma tempestade que está próxima. A função do Curupira é
proteger as florestas. Todo aquele que derriba, ou por qualquer
modo estraga inutilmente as árvores, é punido por ele com a
pena de errar tempos imensos pelos bosques, sem poder atinar
com o caminho de casa, ou meio algum de chegar até os seus”.
Como se vê, qualquer desses tipos é a manifestação de um só
mito em regiões e circunstâncias diferentes.
(O Brasil no folclore, 1970.)
(*) Teogonia, s.f.: 1. Filos. Doutrina mística relativa ao nascimento dos
deuses, e que frequentemente se relaciona com a formação do mundo. 2.
Conjunto de divindades cujo culto forma o sistema religioso dum povo
politeísta. (Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI.)
Todo aquele que perseguisse um animal que estivesse amamentando corria o risco de ver Anhangá [...].
Se a frase apresentada for reescrita trocando-se perseguisse, que está no pretérito imperfeito do modo subjuntivo, por perseguir, futuro do mesmo modo, as formas estivesse e corria assumirão, por correlação de modos e tempos, as seguintes flexões:
Se a frase apresentada for reescrita trocando-se perseguisse, que está no pretérito imperfeito do modo subjuntivo, por perseguir, futuro do mesmo modo, as formas estivesse e corria assumirão, por correlação de modos e tempos, as seguintes flexões:
Q1260411
Português
Texto associado
Instrução: A questão toma por base uma
passagem de um livro de José Ribeiro sobre o folclore nacional.
Curupira
Na teogonia* tupi, o anhangá, gênio andante, espírito andejo ou vagabundo, destinava-se a proteger a caça do campo. Era
imaginado, segundo a tradição colhida pelo Dr. Couto de Magalhães, sob a figura de um veado branco, com olhos de fogo.
Todo aquele que perseguisse um animal que estivesse amamentando corria o risco de ver Anhangá e a visão determinava
logo a febre e, às vezes, a loucura. O caapora é o mesmo tipo
mítico encontrado nas regiões central e meridional e aí representado por um homem enorme coberto de pelos negros por todo
o rosto e por todo o corpo, ao qual se confiou a proteção da caça
do mato. Tristonho e taciturno, anda sempre montado em um
porco de grandes dimensões, dando de quando em vez um grito
para impelir a vara. Quem o encontra adquire logo a certeza
de ficar infeliz e de ser mal sucedido em tudo que intentar. Dele
se originaram as expressões portuguesas caipora e caiporismo,
como sinônimo de má sorte, infelicidade, desdita nos negócios.
Bilac assim o descreve: “Companheiro do curupira, ou sua duplicata, é o Caapora, ora gigante, ora anão, montado num caititu, e cavalgando à frente de varas de porcos do mato, fumando
cachimbo ou cigarro, pedindo fogo aos viajores; à frente dele
voam os vaga-lumes, seus batedores, alumiando o caminho”.
Ambos representam um só mito com diferente configuração e a mesma identidade com o curupira e o jurupari, numes
que guardam a floresta. Todos convergem mais ou menos para
o mesmo fim, sendo que o curupira é representado na região
setentrional por um “pequeno tapuio” com os pés voltados para
trás e sem os orifícios necessários para as secreções indispensáveis à vida, pelo que a gente do Pará diz que ele é músico. O
Curupira ou Currupira, como é chamado no sul, aliás erroneamente, figura em uma infinidade de lendas tanto no norte como
no sul do Brasil. No Pará, quando se viaja pelos rios e se ouve
alguma pancada longínqua no meio dos bosques, “os romeiros
dizem que é o Curupira que está batendo nas sapupemas, a ver
se as árvores estão suficientemente fortes para sofrerem a ação
de alguma tempestade que está próxima. A função do Curupira é
proteger as florestas. Todo aquele que derriba, ou por qualquer
modo estraga inutilmente as árvores, é punido por ele com a
pena de errar tempos imensos pelos bosques, sem poder atinar
com o caminho de casa, ou meio algum de chegar até os seus”.
Como se vê, qualquer desses tipos é a manifestação de um só
mito em regiões e circunstâncias diferentes.
(O Brasil no folclore, 1970.)
(*) Teogonia, s.f.: 1. Filos. Doutrina mística relativa ao nascimento dos
deuses, e que frequentemente se relaciona com a formação do mundo. 2.
Conjunto de divindades cujo culto forma o sistema religioso dum povo
politeísta. (Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI.)
Segundo o texto, a lenda do Caapora foi responsável pela criação de uma palavra no português com o significado de dor,
sofrimento, má sorte, fracasso. Tal palavra é:
Q1260412
Português
Texto associado
Instrução: A questão toma por base uma
passagem de um livro de José Ribeiro sobre o folclore nacional.
Curupira
Na teogonia* tupi, o anhangá, gênio andante, espírito andejo ou vagabundo, destinava-se a proteger a caça do campo. Era
imaginado, segundo a tradição colhida pelo Dr. Couto de Magalhães, sob a figura de um veado branco, com olhos de fogo.
Todo aquele que perseguisse um animal que estivesse amamentando corria o risco de ver Anhangá e a visão determinava
logo a febre e, às vezes, a loucura. O caapora é o mesmo tipo
mítico encontrado nas regiões central e meridional e aí representado por um homem enorme coberto de pelos negros por todo
o rosto e por todo o corpo, ao qual se confiou a proteção da caça
do mato. Tristonho e taciturno, anda sempre montado em um
porco de grandes dimensões, dando de quando em vez um grito
para impelir a vara. Quem o encontra adquire logo a certeza
de ficar infeliz e de ser mal sucedido em tudo que intentar. Dele
se originaram as expressões portuguesas caipora e caiporismo,
como sinônimo de má sorte, infelicidade, desdita nos negócios.
Bilac assim o descreve: “Companheiro do curupira, ou sua duplicata, é o Caapora, ora gigante, ora anão, montado num caititu, e cavalgando à frente de varas de porcos do mato, fumando
cachimbo ou cigarro, pedindo fogo aos viajores; à frente dele
voam os vaga-lumes, seus batedores, alumiando o caminho”.
Ambos representam um só mito com diferente configuração e a mesma identidade com o curupira e o jurupari, numes
que guardam a floresta. Todos convergem mais ou menos para
o mesmo fim, sendo que o curupira é representado na região
setentrional por um “pequeno tapuio” com os pés voltados para
trás e sem os orifícios necessários para as secreções indispensáveis à vida, pelo que a gente do Pará diz que ele é músico. O
Curupira ou Currupira, como é chamado no sul, aliás erroneamente, figura em uma infinidade de lendas tanto no norte como
no sul do Brasil. No Pará, quando se viaja pelos rios e se ouve
alguma pancada longínqua no meio dos bosques, “os romeiros
dizem que é o Curupira que está batendo nas sapupemas, a ver
se as árvores estão suficientemente fortes para sofrerem a ação
de alguma tempestade que está próxima. A função do Curupira é
proteger as florestas. Todo aquele que derriba, ou por qualquer
modo estraga inutilmente as árvores, é punido por ele com a
pena de errar tempos imensos pelos bosques, sem poder atinar
com o caminho de casa, ou meio algum de chegar até os seus”.
Como se vê, qualquer desses tipos é a manifestação de um só
mito em regiões e circunstâncias diferentes.
(O Brasil no folclore, 1970.)
(*) Teogonia, s.f.: 1. Filos. Doutrina mística relativa ao nascimento dos
deuses, e que frequentemente se relaciona com a formação do mundo. 2.
Conjunto de divindades cujo culto forma o sistema religioso dum povo
politeísta. (Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI.)
[...] à frente dele voam os vaga-lumes, seus batedores, alumiando o caminho.
Eliminando-se o aposto, a frase em destaque apresentará, de acordo com a norma-padrão, a seguinte forma:
Eliminando-se o aposto, a frase em destaque apresentará, de acordo com a norma-padrão, a seguinte forma: