Questões Militares de Português - Adjetivos
Foram encontradas 69 questões
TEXTO II
Por que essa pressa?
Walcyr Carrasco
Ando surpreso. De uns tempos para cá, as pessoas parecem estar perdendo a noção de fila. Para embarcar no aeroporto, nem se diga! Assim que o voo é chamado, sempre há um grupo de passageiros que se amontoa em frente à entrada. Crianças, idosos e deficientes têm preferência no embarque, mas poucos conseguem chegar na frente. Detalhe: os lugares são marcados previamente. Por que a pressa?
Imagino como sofre o caixa de um bar, tendo de atender várias pessoas que gritam ao mesmo tempo. Em metrô, é um sufoco. O correto seria esperar que saia quem vai desembarcar. Tentei fazer isso no horário de pico. Fui empurrado, levei uma cotovelada na orelha e ainda me xingaram! Uma loucura! Quem quer sair empurra, quem quer entrar empurra mais!
Até entre os elegantes, reina a confusão! Fui a uma festa. Serviram o jantar em um bufê, com comida farta, de dar água na boca. Os mais educadinhos foram se servindo em fila. Dali a pouco entrou uma perua no meio, estendendo as unhas pintadas:
– Deixa eu pegar só uma saladinha!
Pronto! Outro voou para o prato quente, furando todo mundo. A fila parou. Dois ou três aproveitaram a deixa para se servir, espetando quem estava na frente com os garfos. […] Quando chego a um restaurante e avisam que tem espera, vou embora. Ninguém respeita ordem de chegada. A começar dos maîtres, que dão preferência a clientes fiéis, conhecidos... seja lá quem for. É justo que um cliente tenha suas vantagens. Mas, então, por que não reservar a mesa com antecedência? […]
Elevador, então, nem se fala. Elevadores, aliás, transformaram-se num purgatório. Não é inferno porque um dia a gente sai. Os espaçosos espremem os mais corteses. Nunca falta quem use um perfume fortíssimo, desses de deixar a cabeça tonta. Tudo seria passável se ao menos fosse possível entrar e sair de um elevador cheio sem passar por cenas de pugilato. Mesmo porque, como nos metrôs, quem vai entrar nunca deixa os outros desembarcar!
É impossível que todo mundo tenha sempre tanta pressa. Minha impressão é que, com o stress da vida moderna, as pessoas andam esquecendo as regras mínimas do bem viver.
Adaptado de:<http://www.itatiaia.com.br/blog/jose-lino-souza-barros/por-que-essa-pressa-texto-de-walcyr-carrasco>
Informe se é verdadeiro (V) ou falso (F) o que se afirma a seguir e assinale a alternativa com a sequência correta.
( ) Em “Os mais educadinhos foram se servindo em fila.”, o diminutivo apresenta função valorativa, pois revela que a educação de tais pessoas é pertinente com a situação narrada.
( ) Em “– Deixa eu pegar só uma saladinha!”, a flexão do substantivo em destaque no diminutivo revela, junto ao advérbio “só”, uma estratégia linguística utilizada pela falante para justificar e minimizar sua “infração” ao furar a fila do bufê.
( ) Em “Os espaçosos espremem os mais corteses.”, os adjetivos em destaque foram substantivados com a finalidade de nomear um grupo de pessoas que apresenta tais características.
( ) Em “[…] quem vai entrar nunca deixa os outros desembarcarem!”, percebe-se a utilização do ponto de exclamação com finalidade de realce a uma ordem, um desejo.
Perdedor, vencedor
O perdedor cumprimentou o vencedor. Apertaram-se as mãos por cima da rede. Depois foram para o vestiário, lado a lado. No vestiário, enquanto tiravam a roupa, o perdedor apontou para a raquete do outro e comentou, sorrindo:
- Também, com essa raquete...
Era uma raquete importada, último tipo. Muito melhor do que a do perdedor. O vencedor também sorriu, mas não disse nada. Começou a descalçar os tênis. O perdedor comentou, ainda sorrindo:
- Também, com esses tênis...
O vencedor quieto. Também sorrindo. Os dois ficaram nus e entraram no chuveiro. O perdedor examinou o vencedor e comentou:
- Também, com esse físico...
O vencedor perdeu a paciência.
- Olha aqui - disse. - Você poderia ter um físico igual ao meu, se se cuidasse. Se perdesse essa barriga. Você tem dinheiro, senão não seria sócio deste clube. Pode comprar uma raquete igual à minha e tênis melhores do que os meus.
Mas sabe de uma coisa? Não é equipamento que ganha jogo. É a pessoa. É a aplicação, a vontade de vencer, a atitude. E você não tem uma atitude de vencedor.
Prefere atribuir sua derrota à minha raquete, aos meus tênis, ao meu físico, a tudo menos a você mesmo. Se parasse de admirar tudo que é meu e mudasse de atitude, você também poderia ser um vencedor, apesar dessa barriga.
O perdedor ficou em silêncio por alguns segundos, depois disse:
- Também, com essa linha de raciocínio...
Luis Fernando Verissimo
Disponível em: https://docente.ifrn.edu.br/marcelmatias/Disciplinas/lingua-portuguesa/lingua-portuguesa2012.2/perdeedor-vencedor/view.
Crônica de Luis Fernando Verissimo publicada no livro "Diálogos impossíveis".
“Também, com essa raquete...” “Também, com esses tênis...” “Também, com esse físico...” “Também, com essa linha de raciocínio...”
Primeiro eu vesti o colete de mototáxi que guardei por três meses enquanto esperava a oportunidade da moto. Saí pilotando pelo bairro, não andei nem três quarteirões e uma mulher fez sinal com a mão.
Para aí, mototáxi.
Parei e ela me olhou assustada quando chegou perto.
Oxe, e é mulher, é?
Eu dei um sorrisinho meio troncho. Disse que pois é. Ela montou na garupa e falou que pelo menos ficava mais à vontade pra segurar na minha cintura. Não segurava na cintura de mototáxi homem que era pra não dar liberdade. Eu disse que pois é de novo.
Fui deixar essa mulher tão longe que eu nem sabia onde era aquilo. Ela foi me ensinando. Parecia que não ia chegar nunca. O sol rachando.
Quando a gente chegou lá, na frente de uma casa de taipa toda se desmontando, ela perguntou quanto tinha dado a corrida. Eu fiquei pensando por um tempo e ela me olhando impaciente, mas eu tava juntando a cara pra falar que era dez reais. Achando que ela ia reclamar do preço, falei oito, mas ela me entregou o dinheiro e sumiu pra dentro da casa.
Fiquei tomando coragem pra voltar. Não sabia voltar, na verdade. Fiquei olhando pra todo lado, o celular quase sem sinal. Longe demais, longe de um jeito que nem dez conto pagava. O resumo era, então, a minha burrice. Otária demais, só oito reais. Dirigindo na chinelada, com medo de qualquer cara de macho que aparecia nas calçadas. Eu só achava que iam me roubar. Imagina se levam minha moto zerada…
Fiquei nessa angústia, duas horas perdida. Até que avistei a estrada de volta pra Matriz. Depois, comecei a reconhecer melhor as casinhas, as cercas, as placas. Entrei de novo na cidade com a maior alegria. Mais feliz do que quando peguei a moto pela primeira vez.