Questões de Concurso Militar EsFCEx 2020 para Magistério de Português
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Q1778256
Português
Texto associado
Tudo, menos uma estrela
O velho jazz está sendo ceifado pela Covid-19. Depois
do pianista Ellis Marsalis e do guitarrista Bucky Pizzarelli, foi
a vez, na semana passada, do saxofonista Lee Konitz, ainda
na ativa aos 92 anos. Os jornais deram a sua morte não por
ter sido um grande músico, mas por “ter tocado com Miles
Davis”, nos discos de um revolucionário noneto1
que, em
1949-50, lançou o cool jazz2
. Era um estilo com raízes na big
band3
de Claude Thornhill, de onde tinham saído, além de
Lee, o sax-barítono Gerry Mulligan e o arranjador Gil Evans,
todos no noneto. Mas só Miles levou a fama.
Lee foi dos poucos sax-altos nascidos no bebop4
que não
tentaram copiar Charlie Parker. Suas frases longas e sem
vibrato eram a antítese de Parker. E, desde então, sempre
esteve na contramão do jazz, gravando discos em que tocava
sozinho, ou com um trio sem piano ou com uma orquestra de
90 figuras.
Ele era tudo, menos uma estrela do jazz. Nunca teve
agente ou assessor de imprensa e, ao morrer, devia ser o
único músico do mundo sem email. O incrível é que, avesso
a qualquer carreira comercial, tenha gravado tanto. Levantei
sua discografia e, de 1949 a 2018, contei 95 álbuns como
líder. Somando-se os de que só participou, são mais setenta.
(Ruy Castro, “Tudo, menos uma estrela”. Folha de S.Paulo,
27.04.2020. Adaptado)
1 Conjunto formado por nove músicos.
2 Estilo que se caracteriza por ser, na maioria das vezes, uma música mais
lenta e mais melancólica. Há mais espaços na música, ela é mais estendida,
e menos notas são tocadas.
3 Indica um grande grupo instrumental associado ao jazz. Constitui-se, basicamente, de 12 a 25 músicos e contém primordialmente 4 tipos de instrumentos.
4 Representa uma das correntes mais influentes do jazz. Seu nome provém
da onomatopeia feita ao imitar o som de martelos que batiam no metal
na construção das ferrovias americanas, gerando uma “melodia” cheia de
pequenas notas.
Na frase do primeiro parágrafo “O velho jazz está sendo
ceifado pela Covid-19.”, o autor emprega o termo “velho”
como uma forma de demonstrar
Q1778261
Português
Texto associado
Entrega em domicílio
Não sei quando será, mas não deve demorar. O lugar?
Qualquer grande cidade brasileira. Noite. É cedo, mas não
se veem carros nas ruas nem gente nas calçadas. Só o que
se vê são motociclistas. Suas motocicletas têm caixas atrás,
para carregar os pedidos. São entregadores. Motoboys.
Teleboys. Eles se cruzam nas ruas vazias, em disparada.
Como os carros não saem mais à noite, e os motociclistas
não os respeitam mesmo, os faróis semafóricos não funcionam. O amarelo fica piscando a noite inteira, e nos cruzamentos a preferência é dos entregadores mais corajosos. Há
várias batidas e pelo menos um morto por noite. Mas o número de motociclistas nas ruas não para de crescer.
A população não sai mais de casa. Tudo é pedido pelo
telefone. Os restaurantes despediram seus garçons e trocaram por motoboys. Telegarçons. Se você quiser um jantar
fino à luz de velas, com vários pratos, sobremesa e vinho,
existem serviços de entrega para tudo. Um entrega os pratos
finos. Outro a sobremesa. Outro os vinhos. Outro a toalha de
linho, os talheres e as flores. E já há um de televelas.
Como as pessoas não saem à noite e ninguém mais vai
jantar na casa de ninguém, há uma cooperativa que se prontifica a mandar os próprios teleboys como convidados a jantares finos. A Telenós. Você especifica o tipo de conversa que
quer à mesa – mais ou menos intelectual, divertida, política,
variada etc. – e na hora marcada chegam os telecomensais,
no número e com o traje que você quiser. Eles comem, conversam, elogiam os anfitriões e vão embora ou, por um adicional, limpam a cozinha.
Os motoboys dominam a noite e desenvolveram uma cultura própria. Têm seu folclore, seus mitos, seus heróis.
Não sei quando será, mas não deve demorar.
(Luis Fernando Veríssimo [org. Adriana Falcão e Isabel Falcão],
“Entrega em domicílio”. Ironias do tempo, 2018. Adaptado)
Na crônica, o narrador relata os fatos por meio de