Analisando comparativamente os desfechos do Texto 1 e do Tex...

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Ano: 2018 Banca: COPESE - UFJF Órgão: UFJF Prova: COPESE - UFJF - 2018 - UFJF - Vestibular - 2º Dia - Módulo II |
Q1271962 Português

TEXTO 1:

Chiquinho Azevedo

(Gilberto Gil)


Chiquinho Azevedo

Garoto de Ipanema

Já salvou um menino

Na Praia, no Recife

Nesse dia Momó também estava com a gente


Levou-se o menino

Pra uma clínica em frente

E o médico não quis

Vir atender a gente

Nessa hora nosso sangue ficou bem quente


Menino morrendo

Era aquela agonia

E o doutor só queria

Mediante dinheiro

Nessa hora vi quanto o mundo está doente


Discutiu-se muito

Ameaçou-se briga

Doze litros de água

Tiraram da barriga

Do menino que sobreviveu finalmente


Muita gente me pergunta

Se essa estória aconteceu

Aconteceu minha gente

Quem está contando sou eu

Aconteceu e acontece

Todo dia por aí

Aconteceu e acontece

Que esse mundo é mesmo assim


(GIL, Gilberto. Quanta. CD Warner Music, 1997. Faixa 6.) 


TEXTO 2

A experiência da cidade

(Fernando Sabino)

A coisa que mais o impressionou no Rio foram os bondes. Não pode ver um bonde, fica maravilhado: nunca pensou que existisse algo de tão fantástico.

Se ele quiser andar de fasto, ele pode?

Andar de fasto, na sua linguagem de menino do interior de Minas, é andar para trás. Tem outras expressões esquisitas: sungar é levantar; pra riba é pra cima; pramode é para, por causa, etc. Mas eu também sou mineiro:

Pramode o bonde andar de fasto tem que sungar os bancos e tocar para riba. Ele fica olhando. Olha tudo com atenção. Tem oito anos mas bem podia ter cinco ou seis, de tal maneira é pequenino. Bem que a cozinheira dizia: Tenho um filho que é deste tamaninho.

E levava a mão à altura do joelho. Chama-se Valdecir. Ninguém acerta com seu nome, nem ele próprio: Vardici, diz, mostrando os dentes. No dia em que chegou fiquei sabendo que nunca tivera ao menos notícia da existência de uma cidade, além do arraial onde nascera. Nunca vira luz elétrica ou água corrente, ainda mais telefone ou elevador. Abria a torneira e ficava olhando. Quando tinha água era capaz de inundar o edifício. Quando não tinha, divertia-se tocando a campainha da porta da rua – e para alcançá-la precisava arrastar uma cadeira. As da sala de estar têm a marca de seus pés até hoje. A cozinheira atendia ao chamado, dava-lhe um safanão, arrastava-o para a cozinha. Ele ficava olhando: nunca vira um fogão a gás.

[...]

Arranjei-lhe um lugar num colégio interno, a pedido da mãe. Ele concordou em ir, desde que fosse de bonde. E lá se foi, certa manhã, na beirada do banco, descobrindo maravilhas em cada esquina.

[...]

Não sei por quê, saiu do colégio; acabou indo morar com os tios em Santa Teresa, numa casa de cômodos. Um dia, abro o jornal e leio a notícia: um homem matara o vizinho do quarto, que tentara violentar um menino. Foi arrolado como testemunha! Voltou para minha casa e já trazia nos olhos a perplexidade dos escandalizados pela vida.

Agora regressa à sua terra. Vai crescer, tornar-se homem como os que aqui conheceu, ou apenas envelhecer e morrer apoiado no cabo de uma enxada, como seus ancestrais. Leva da cidade a notícia de meia dúzia de coisas fantásticas – bonde, televisão, elevador, telefone – cuja lembrança irá talvez se apagando com o tempo. Esquecerá depressa este homem que aqui viu, cercado de mecanismos, moderno e civilizado, que o abrigou alguns dias e a quem devolveu a infância. Apenas não esquecerá tão cedo seu primeiro conhecimento do homem, animal feroz.

(SABINO, Fernando. A companheira de viagem. Rio de Janeiro: Record, 1984. p. 71-74.)

Analisando comparativamente os desfechos do Texto 1 e do Texto 2, pode-se concluir que a visão que eles apresentam sobre o ser humano é:
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